NINGUÉM PULA DE SAPATOS: um texto da escritora Virginia Munhoz para a Aliás
Virginia Munhoz*
Ilustração de Ju*
NINGUÉM PULA DE SAPATOS
Aos seis tomou perfume, o que não lhe levou, mas lhe deixou olheiras azuladas.
Aos 15 as lâminas perfuravam a carne tenra minando fios vermelhos que com o tempo selavam em riscos brancos quase transparentes.
Com 22 foram pílulas. Muitas, de todas as cores e nomes. E ela viu dragões e anjos, o futuro que não ia ser e o passado que deveria ter sido.
Aos 23 as agulhas, dolorosas, ardidas. Fazendo os olhos revirarem e o tempo sumir.
Mas, todo dia, ela abria os olhos.
Ria. Comia. Abraçava. Trabalhava. Fazia.
Até que um dia ela passou por uma janela no 16° andar. Era o crepúsculo. Carros pequenos lá embaixo. O elevador demorando. Ninguém no corredor. Ela tirou os sapatos. Alcançou a janela e pulou.
***
Virginia Munhoz
Libriana do ano do dragão, apaixonada por papel, cadernos, canetas e livros. Escreve à mão. Adora ficção científica de boa qualidade e romances baratos. Tem rinite alérgica e tatuagens. Segundo ela os personagens e o enredo das suas crônicas são baseados em fatos e pessoas reais. Será?
Ju
trinta anos de sonho e de sangue. sol em aquário, lua em gêmeos e mais um monte de ar no mapa, mas jura que tem um coração. onde queres um lar, revolução. é psicóloga. desenha e escreve para não sufocar com as forças incontroláveis que traz no peito.