Leia "Autômato", um texto de Cibele Alexandre para a Aliás Editora
- isabelaliaseditora
- 2 de set. de 2021
- 1 min de leitura
Cibele Alexandre*

Ilustração de Jéssica Gabrielle Lima
Autômato
Esquecer as plantas e deixá-las morrer, antecipando seu destino envasado
Esquecer os amores e ir embora, evitando rasgar a pele e quebrar os ossos
Esquecer dos amigos, e não ter dúvidas de que te esquecerão de volta
Arrancar todos os frutos, mas não como quem os colhe inventariando cores
Deve-se utilizar afiadas lâminas e pinças precisas forjadas com o fogo do desaparecimento
E lembrar de incendiar e sufocar o solo, apagando-o da memória dos computadores anciões
Tornar-se íntimo das máquinas confeccionadas sob o signo do progresso
Para emitir novos contratos sob a luz natural das lâmpadas fluorescentes
E imprimir recibos de almas compradas pela bagatela de um pôr-do-sol por ano
Olhar-se no espelho esperando ver no reflexo os cães do inferno em seu encalço
Sentir as lágrimas escorrerem e sufocar um grito: áudio desligado com mão sobre boca
Por último, deixar que os farejadores te encontrem e constatem estar tudo em ordem
19 de setembro de 2020
***
Cibele Alexandre
Mestra em Direito Constitucional Público e Teoria Política pela Universidade de Fortaleza. Pesquisadora nas áreas de Direitos Culturais e Mediação de Conflitos.
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