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DE NOVO, MAIS UMA VEZ: um texto de Lais Eutália para a Aliás

Lais Eutália*

Ilustração de Jéssica Gabrielle Lima


de novo, mais uma vez

do nada apareceu e arrombou a porta da casa dela e feito um encosto montou em suas costas. parecia uma britadeira no peito, cavando um buraco fundíssimo em segundos. sozinha. ela sentiu-se sozinha. e sentir-se sozinha dói tanto. é mermo que tá com um buraco nas costas, a carne viva e as entranhas expostas sem ter quem acuda. não há quem a veja. a telepatia não funciona no mundo real e para ela, falar também é demais. ela sente que não pode demonstrar fraqueza. e também né, sabe não adianta gritar. porque ninguém vai vir. não adianta falar porque sabe que não há quem se importe. os relacionamentos são superficiais para ela. não consegue confiar plenamente em ninguém e “tá tudo bem”. tá tudo bem porra nenhuma. mas ela sabe que do jeito que a angústia vem ela vai. e a depressão que só anda grudada com o sono, que parece que tem uns 2 metros de altura, vai dar um rolê pelas ruas do bairro. deixando-a alerta a noite toda. dias e dias sem dormir. 3 horinhas a cada 24 horas e ela continua dando conta de tudo. faz muita coisa ao mesmo tempo. são tantas ideias, menina. que até a perguntam: “pra quê isso tudo?”. do nada rebola os pensamentos pro alto e socializa com as pessoas mais próximas. esperando que alguma alma as apare nas mãos e materialize a coisa. essa moça que enxergo no espelho é brilhante em tudo que faz, só que constância não é seu ponto forte e tem uma estranha crença. acredita que dos males da vida o menor é fumar. todo mundo morre mesmo. apressar a visita dessa paradoxal presença pode não ser tão ruim assim. difícil é viver. morrer é bem facinho.


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Lais Eutália

Estuda história na ufc, às vezes conta histórias, chega junto de umas bibliotecas comunitárias, gosta muito de saraus, faz seu corre independente e também compõe a coletiva baRRósas.


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