MATADOUROS: um texto de Priscila Reinaldo para a Aliás Editora
Por Priscila Reinaldo*
Ilustração de Ju
As pedras do calçamento também são matadouros
Lugar em que se abatem animais para consumo público
Em algum momento da madrugada enquanto a maioria dormia o cansaço dos dias comuns.
Dias tão comuns que não lembro o ano, nem o mês ou o dia da semana
Não sei o nome dela também
Nunca me falaram
Chamo de Luiza apenas para constar nos versos alguma identificação
e na tentativa de humanizar a única lembrança de um corpo morto
Milhares de nós somos arrancadas daqui como abjetos
corpos descartáveis e repugnados
violentamente assassinados
e naquela noite o calçamento foi tingindo de sangue e de barro
Mais um dia comum.
Na ida pra escola, com sapatos fechados e fardas limpas, passamos pelo corpo da travesti
abatida e exposta ao espetáculo, ao público
assassinada no bairro em frente a igreja petencostal Deus é Amor.
***
Priscila Reinaldo
Poeta, artesã e médica. Publica seu trabalho em zines, lambe-lambe e diários. Nasceu nas montanhas em 1995 e veio para perto do mar em 2021. Gosta de literatura, de café e do gato Leão.
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